sábado, 27 de junho de 2009

A cabreira

(…)

«Ai que bonita cabreira…

«Que lá em baixo vejo estar!

«E uma cabra toda branca,

«Que nem se deixa fitar,

«Meus criados e escudeiros,

«Ide a cabreira buscar.»

Isto dizia a rainha,

Este foi o seu mandar.

(…)

(Júlio Dinis, “As Pupilas do Senhor Reitor”)

domingo, 14 de junho de 2009

MEGALITO

MEGALITO Um dia serei um megalito. Não sei porque é que esta palavra desenhada claramente numa grande planície deserta se insinuou nos meus olhos. Sei apenas que um dia serei um megalito vestido de musgo e brumas. Um megalito pautando uma vasta paisagem musical. Um megalito tocado pelo vento e pela ideia. Juntarei então em meu redor amigos mulher e filhos no grande baile das folhas que se vão chegando à terra. (José Fanha; Tempo azul, Campo das Letras - Editores S.A.,2002)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

(Os) Lusíadas

(Imagem Google)

Numa manhã, a professora pergunta ao aluno: - Diz-me lá quem escreveu 'Os Lusíadas'? O aluno, a gaguejar, responde: - Não sei, Sra. Professora, mas eu não fui. E começa a chorar. A professora, furiosa, diz-lhe: Pois então, de tarde, quero falar com o teu pai. Em conversa com o pai, a professora faz-lhe queixa: - Não percebo o seu filho. Perguntei-lhe quem escreveu 'Os Lusíadas' e ele respondeu-me que não sabia, que não foi ele... Diz o pai: - Bem, ele não costuma ser mentiroso, se diz que não foi ele, é porque não foi. Já se fosse o irmão... Irritada com tanta ignorância, a professora resolve ir para casa e, na passagem pelo posto local da G.N.R., diz-lhe o comandante: - Parece que o dia não lhe correu muito bem... - Pois não, imagine que perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas'...respondeu-me que não sabia, que não foi ele, e começou a chorar. O comandante do posto: - Não se preocupe. Chamamos cá o miúdo, damos-lhe um 'aperto' e vai ver que ele confessa tudo! Com os cabelos em pé, a professora chega a casa e encontra o marido sentado no sofá, a ler o jornal. Pergunta-lhe este: - Então o dia correu bem? - Ora, deixa-me cá. Hoje perguntei a um aluno quem escreveu 'Os Lusíadas'. Começou a gaguejar, que não sabia, que não tinha sido ele, e pôs-se a chorar. O pai diz-me que ele não costuma ser mentiroso. O comandante da G.N.R. quer chamá-lo e obrigá-lo a confessar. Que hei-de eu fazer a isto? O marido, confortando-a: - Olha, esquece. Janta, dorme e amanhã tudo se resolve. Vais ver que se calhar foste tu e já não te lembras...!

(Autor desconhecido. Recebida por e-mail de Laureano Soares, conterrâneo e amigo)

quarta-feira, 3 de junho de 2009

TEXTURAS

A publicação do post “Presença” http://nasciaqui-sobraldesaomiguel.blogspot.com/2009/05/presenca.html Serviu de mote a Laureano Soares, poeta, conterrâneo e amigo, para mais um dos seus poemas que partilho convosco: Para lá daquela porta « Havia um coração grande Para lá daquela porta » Onde ânsias e aspirações Se viviam noite e dia E no Inverno se sentia Vindo das fendas da porta O frio que gela e corta. E num só, dois corações Para lá daquela porta Comiam nabos da horta Aquecendo-se à lareira Iam nutrindo ilusões. E nos sulcos das ombreiras Dessa linda porta antiga Deixaram bem esculpida P’ras vindouras gerações Uma riqueza de outrora Que é lentamente esquecida. Essa porta abandonada Que linda ! Se restaurada P’ra testemunho e louvor Às mãos que com tanto amor Por elas foi cinzelada. Para lá daquela porta… Viveram dois corações Deram amor, deram vida A futuras gerações. (Laureano Soares)

segunda-feira, 1 de junho de 2009

A criança fecha os olhos no muro

A criança fecha os olhos no muro

Conta o tempo que os amigos demoram

A transformar-se

Fecha os olhos no interior dos números

Olha para dentro e em redor e encontra-se

A si mesma

A criança pergunta se há-de ir ter consigo

Ela quer encontrar os amigos, ela quer

Que lhe respondam. Ela calcula a voz alta

A altura do muro, a progressão do silêncio

(Daniel Faria, Poesia – Edições quasi, Novembro de 2003)