terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Por este (barroco de) Carvalho acima (3)

- E finalmente, cheguei!    
 


sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

O MATATEU!



(Sanatório das Penhas da Saúde
Foto gentilmente cedida pela Sra. Francelina Alves, filha de José Francisco de Amorim)



 Quando o galo da vizinha, tiá Antónia, cantou pela primeira vez, nesse dia, aí pelas quatro horas da madrugada, já o homem fazia a barba. Limpou a espuma do sabão e pêlos cortados, que escorria da navalha a um recorte de papel de jornal, passou a navalha novamente no assentador para cortar aqueles pêlos reguilas que na ponta do queixo teimavam em chatear e preparou-se para finalizar o corte: Olhou a sua cara no espelho. Sorriu. O corte parecia-lhe perfeito. Com ambas as mãos lavou a cara e, com a pela ainda húmida, massajou-a suavemente com a pedra-hume. Um ligeiro ardor percorreu toda a superfície da pele acabada de escanhoar (está a desinfectar, pensou). Depois de vestido, olhou mais uma vez o espelho para ajeitar o nó da gravata e saiu para a Rua. O céu estava limpo. A Lua vaidosa com a sua luz intensa de Lua-cheia iluminava-lhe o caminho. A Aldeia não tinha luz eléctrica, nem estrada. Em passo apressado, sai da povoação e começa a percorrer os cerca de dez quilómetros que a separam de Casegas. Daqui, partirá a “camioneta de carrera”, Casegas - Covilhã. Quando o homem, João, entra na camioneta o motor desta está em marcha e parece que soluça (àquela hora da manhã o tempo ainda está frio e há humidade no ar). Instantes depois, a camioneta inicia o seu percurso e após passagem pelo Ourondo e Paúl, a lotação vai quase esgotada. Mesmo com o barulho produzido pela conversa dos passageiros, João, dormita. Quando a camioneta chega ao destino, Garagem de São João de Malta, o Sol, ainda não nasceu. Numa tasca situada na Rua Comendador Mendes Veiga, em frente duma tipografia onde era impresso o Jornal “Notícias da Covilhã”, come apressadamente uma sandes. E pensa: “Despacha-te, João”. E João sai para a rua e começa a percorrer o caminho que o levará ao Sanatório das Penhas da Saúde. Sobe, deixa para trás o sítio do Calvário, Hospital e Bairro da Biquinha. Aqui, respira fundo e o seu olhar abarca por instantes o manto verde de pinheiro bravo que se estende por toda aquela encosta da Serra. E embrenha-se na floresta. A vereda está seguida, aquele trilho é também utilizado aos fins-de-semana pelos covilhanenses que buscam a serenidade e o descanso na montanha, depois duma semana de árduo trabalho. E de repente, a frase “O seu filho é um rebelde” toma de assalto o seu pensamento. A carta do Dr. Miguel de Vasconcelos assim o dizia.

- “Rebelde” o meu filho?
- Não, há certamente engano.
- É tão franzino.
- Bem, logo vejo. “O que for, soará”

E continua a subir. A casa do Dr. Martins já está à vista, ali, perto da estrada. E João avança com mais ímpeto. Mas… num ápice eis que aparece o Matateu e o seu fiel companheiro “um Serra de Estrela” sem nome, enorme e peludo. O Matateu era um cão totalmente vestido de negro, à excepção duma lista branca nas patas dianteiras, rafeiro, de porte mediano. Era o líder. O Serra de Estrela, “sem-nome”, vaidoso com a sua coleira de picos, para fazer frente às raposas e lobos que se aproximassem dos porcos, dos patos-marrecos e dos galináceos, nas instalações existentes nas traseiras do Sanatório, obedecia-lhe. O homem, João, que não contava com aquela dupla canina a barrar-lhe o caminho, sentiu medo. Fragilizado, por momentos, pela íngreme subida, estava exausto. Ficou quieto e esperou. O Matateu continuadamente a ladrar. O “sem- mome” olhava somente e de vez em quando lá soltava um ladrido. Por sorte, o Bernardino “do Paúl”, empregado do Sanatório, e irmão do tratador dos porcos e galináceos, sai das traseiras do enorme edifício e dirige-se à casa do Dr. Martins. E depara-se com aquele cenário. Dá um assobio aos cães que prontamente deixam o homem, João, em paz e sossego. João, ainda visivelmente agastado, cumprimenta e agradece ao Bernardino, dizendo-lhe ao que vem. Depois, calmamente vai à sua vida: Instantes depois abraça fortemente o seu filho, Tonito. E conta-lhe o que acontecera pouco tempo antes.

- Ó meu pai, para a outra vez que lhe surgir no caminho o Matateu, tussa, faça-de-conta que tem tosse. E terá no Matateu “um amigo”.

(O Matateu nunca mais lhe barrou o caminho. E algumas vezes teve direito a um bocadito de presunto.)

                               

sábado, 7 de janeiro de 2012