segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Poetas do Sobral-2



Mil nove e dezasseis
Quando eu vim a Portugal
Vinte e cinco de Setembro
Nasci eu no Cadaval

Não conheci a parteira
É verdade o que eu digo
Lavaram-me com água morna
E cortaram-me o umbigo

Logo dei três cambalhotas
Passado mais um bocado
Mamei leite de uma cabra
Não havia condensado

Nessa manhã tão formosa
Antes de Nascer o Sol
Me vestiram uma camisa
Ao cantar do rouxinol

Mil nove e dezasseis
Minha mãe me deu à luz
O nome que ela me pôs
José Francisco da Cruz

Meu padrinho pôs-me a vela
Minha madrinha me acorda
O padre que me baptizou
João dos Santos Taborda

(José Francisco da Cruz, em Poesias do Cruz, 1987, Edição póstuma)

Ps. Mais conhecido por Ti-Zé Hermínio. Nascido de pais pobres e humildes que faleceram quando ainda era criança. Não frequentou a Escola. Contudo, aprendeu a ler e a escrever aos 11 anos com um colega de trabalho. Com uma qualidade nata para inventar e contar anedotas, esteve ligado ao teatro cómico no Sobral nos anos (19)50/60, sendo famosa a sua “música muda” mercê da sua notável capacidade mímica. Foi um diamante bruto que nunca foi lapidado…

5 comentários:

Anónimo disse...

...E as estórias que eu lhe ouvi!!!
Foram anos e anos a servir-lhe copos de vinho na taberna do meu pai. E muitos baldes de massa lhe "cheguei" nas obras da m/ casa.
Nunca o vi de "má cara" e até chamava irmã á m/ mãe, pois dizia que ambos tinham mamado no peito da mesma ama.
Saudades daqueles dias.
Foi boa a lembrança Sobralfilho .

Anónimo disse...

Homenagem mais que merecida ao Poeta e ao Homem.

Anónimo disse...

Um grande aplauso para a homenagem ao Homem,Poeta,ACTOR,que iluminou a minha infância e fez despertar em muitos de nós o gosto pelo Teatro.Deixai-me associar a este Grande Homem o nome de outro Seu Companheiro de Teatrices:o Ti Manuel Paiva.Que sejam lembrados por muitos de nós e durante muitos anos.

sobralfilho disse...

Esta pequena homenagem, aqui, era devida. Até por amizade. Não sendo o meu nome João (mas sim o meu pai e meu avô), o Ti-Zé Hermínio chamava-me “Joãozito”. Mais tarde, a partir do seu 2º casamento, chamava-me Parente, pois a Senhora era prima do meu avô. E sempre que me via, lá vinha a anedota… (sempre com aquele sorriso maroto) e por vezes a “história do pote do mel”.
É sabido que no teatro foi sempre um “grande senhor” e juntamente com o Ti-Manuel Paiva, outro senhor do Teatro (como muito bem diz o Fernando Paulo), formavam um par com qualidade mais que suficiente para ter triunfado noutros sítios, nomeadamente em Lisboa, ao lado de figuras lendárias, como Vasco Santana, António Silva.

Anónimo disse...

Em jeito de homenagem ao homem de irónico e fino humor: "muitos burros há nesta terra", diz o pároco da terra (mas oriundo de outra), ao dar-se conta de que muitos burros estavam a passar na rua, em frente ao grupo sentado nas escadas, numa soalheira tarde de verão. Segundos depois, ouve-se o Ti Zé Hermínio: "é verdade Sr. Prior...e vieram todos de fora...". Alguns segundos depois, após um silencio, soou enorme e espontânea gargalhada! O padre, esse, sem dizer nada, abandonou o local!!!