quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Sobral em sais de prata



























Pedras dialogantes!...

domingo, 19 de agosto de 2007

Conversando com... Laureano Soares


Passei grande parte do dia 10 do corrente mês, em amigável cavaqueira com Laureano Soares, conterrâneo e amigo emigrado no Quebec, Canadá, desde os 18 anos de idade.
As memórias comuns aparentemente difusas avivaram-se com o desfiar da conversa. E assim, revisitamos os lugares, as canadas, os currais e o gado, os poços de água. Sentimos os pés frios na pedra do sapato. Os passos e vozes das mulheres e homens que sachavam o milho. Ouvimos o melro e o rouxinol e fomos à Escola…
Avançamos e falamos de Camões e do Bocage. Paramos! Laureano disse, então, do seu gosto pela poesia clássica que sempre o acompanhou desde a Primária. Gosto que sempre cultivou, apesar da distância, e que culminou com publicação, em Novembro de 2006, no Quebec, do seu primeiro livro de poesia “Rêves Orphelins”, e com a apresentação do seu segundo livro de poesia “Raízes de Ardósia”, escrito de raiz na nossa Língua, que ocorreu no Salão Paroquial, em Sobral de São Miguel. Facto inédito que me apraz louvar e registar. De realçar é também o facto de ter ensinado Português à sua falecida esposa para ambos o poderem ensinar às suas filhas Jessica e Karine, ao contrário de muitos outros que o procuram esquecer, provavelmente motivados por quem, neste País, os empurra para a emigração, lhes fecha as escolas, os consulados e reduz o pessoal das embaixadas.

Movimenta-se com relativo à-vontade no meio cultural do Québec, onde integra um grupo de amigos poetas admiradores do também poeta (falecido) Emile Nelligan. É membro activo do Cercle de Poètes de la Montérégie, da revista de poesia “Le Carquois”. Recita, poesia e participa em festas, serões e encontros literários, frequentemente.

Temos, assim, Laureano Soares, poeta bilingue, afável, com quem apetece conversar, sempre. E como diz, André Freire, no prefácio em “Raízes de Ardósia”, “cidadão de dois países e de dois continentes, Laureano é um exemplo de vitória e de luta que enriquece as nossas existências”.

Nesse dia, 10 de Agosto, em colectivo atravessámos os tempos…

Um pensamento, um olhar…

Há 71 anos, 19 de Agosto de 1936, Federico García Lorca, poeta e dramaturgo espanhol, foi assassinado pelas tropas franquistas, tendo sido uma das primeiras vítimas da guerra civil de Espanha.

domingo, 12 de agosto de 2007

Um pensamento, um olhar, uma prece…



Saimento


Não lhe fechem os olhos!
À luz do sol é que se arranca o linho…
Desterrado,
Mais uma vez rebelde, vai sozinho;
Seja-lhe ao menos dado
Que mesmo morto veja o seu caminho.

(Miguel Torga, in Nihil Sibi: Terceira parte – A Morte do Poeta)

quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Ruas do meu corpo

(Rua Fundo do Lugar - muito próximo do Adro)


Esta é também uma das muitas ruas do meu corpo. Aqui, morava o meu avô materno. A rua era dele e de todos os outros avós. Aqui, brinquei. Sem brinquedos. Não havia. Nem faziam falta. Brincávamos à mesma. A rua, só por si, (já) era um brinquedo. Nesse tempo, tínhamos uma rua para cada jogo. Para o pião, o largo das vinhas e a rua do Vale, à frente da loja do ti-Abrantes. O largo das vinhas servia também para a bilharda. O rapa (rapa, tira, põe, deixa), jogava-se detrás da Sacristia, no balcão duma casa que foi destruída para dar lugar à casa do ti-João Serrão. Ah! E a bola?... Para a bola de farrapos tínhamos a eira de cima e a eira de baixo.
Um dia, entrei em casa daquele meu avô. Não me lembro das suas feições. Teria cabelo branco e cara de avô, certamente… Mas, sei que as costas das suas mãos eram engelhadas e de veias salientes. Dizia que era do raio da idade. Da idade? Que raio era isso? Não acreditei. Hoje… acredito.
Ele vivia só, a minha avó era só uma imagem, no tempo. Entrei e fui logo para a cozinha. Na rua molinhava e os homens esfregavam as mãos e diziam que estava um frio de rachar. O Inverno aproximava-se do fim, mas ainda era Inverno – diziam. Da lareira aberta e bem acesa o fumo subia e escapava-se pelas fisgas do caniço, já sem castanhas. A chama do lume crepitava com estrondo e pequenas lascas fumegantes de carcódia esvoaçavam pelo pequeno espaço da cozinha. No ar, além do cheiro a fumo, havia também o cheiro intensamente conhecido do feijão com couves. Na panela de ferro ligeiramente destapada o caldo fervia. Das correntes que do caniço desciam até à lareira pendiam as trempes que seguravam uma frigideira onde uma fritada de porco recebia os temperos finais e libertava um cheirinho que até me fazia cócegas na barriga!
Na hora do comer, o meu avô deitou um pouco de azeite cru no prato do caldo – para lhe dar mais sabor, dizia. Da pequena boca da almotolia escorriam lentamente umas gotas de azeite. Meu avô elevou a almotolia ao nível da boca e sorveu aquele azeite... Do meu olhar interrogativo (?), ele terá visto uma pergunta e disse: “Tonito, não se pode perder nada”.

– Acabava de receber a primeira lição de economia!...

domingo, 5 de agosto de 2007

1. Caruncho, bicho da madeira, bicho-carpinteiro?

Um dia destes, o Silva, amigo e companheiro de estrada, sonhou que lá longe, no mar, a caminho das Índias, havia uma ilha a que chamavam Madeira. Esta Ilha tinha como chefe um homem que se aproximava de velho. Contudo, não era um velho da montanha tão pouco um velho lobo-do-mar, ou por não haver montanhas, ou por não ter sido marinheiro. Não era dono da Ilha, parecia. Anafado, turbulento e irrequieto, como bicho-carpinteiro, não se calava nem quedava. E reclamava tanto, tanto do dono da Ilha que este não sabia o que fazer. E perguntou aos seus conselheiros. Um deles, a medo (no terra do dono da ilha, a boca só pode ser aberta, para tratar dos dentes) exclamou: dêem-lhe a Ilha, mas não o machado!

2. Caruncho, bicho da madeira, bicho-carpinteiro?

Quem diria? Silenciosa e secretamente imponente, o caruncho chega ao hemiciclo da Assembleia da República. A ordem é para destruir as monumentais cadeiras e outros móveis. Será que o raio do bicho quer que os Deputados da Nação fiquem de pé? Para alguns até era bem feito: para não dormitarem! Bicho inteligente este. E a ordem é para destruir. O bicho utiliza métodos naturais: a fome ou a vontade de comer. O homem não. Utilizará a Química e… vencerá. Só espero que da Química nada escape para o Atlântico.