(..) Foi acordado por um
movimento repentino nas suas costas. Um saco, uma mala de senhora caia no seu
colo.
– Desculpe, ouviu Lob da boca
bem desenhada da jovem que continuou preparando a bagagem para a saída do
comboio.
O comboio apitou lá na frente dando indicação da
breve chagada à estação. A mãe (?) da jovem com a maleta na mão dirigia-se para
a saída quando ela aceitou das mãos de Lob o saco-mala que antes lhe lançara no
colo. Pegando no saco, que Lob lhe devolvia, com olhar doce, lindo, e lábios
rosados, húmidos, deixou-lhe na mão um pedaço de papel correndo para a porta de
saída do comboio que acabava de parar na estação.
Lob abriu a janela e viu muitas
fardas verdes que acabavam de sair do comboio e entre elas uma “mãe” e uma
filha de cabelos negros que para ele olhava fixamente… Com tristeza… Muita
tristeza.
Lob não deixou de seguir,
enquanto foi possível, os passos daquelas duas mulheres que abandonavam agora a
estação do caminho-de-ferro de Castelo Branco. Castelo Branco de recordações.
Onde andaria o Quelhas perguntou-se sem deixar de olhar a jovem de lábios
rosados, húmidos.
Apitando três vezes o comboio
zarpou em direcção à Gardunha e aos túneis que, diziam alguns visionários no
seu tempo de estudante na zona, tinha no seu interior “extra-terrestres”. A
janela continuava aberta na noite. O ar era fresco. A lua cheia dominava o céu.
Lob desdobrou o papel que a jovem lhe deixara. Uma vez. Outra vez. E leu numa
caligrafia visivelmente rápida, nervosa. ANA PAULA telefone 478… e mais três
números seguidos de …tua madrinha de guerra...
Lob olhou a noite. Lob fixou a lua poisada no cume da serra. O comboio
entrou no primeiro túnel da Gardunha e a janela aberta deixava entrar o som
cavo e intimista das entranhas da montanha. (…)
[Lobo Mata, em a “Guerra de Lob”
1ª Edição: Julho,2012. Editora: Chiado Editora]