Covilhã em 1785
Inquéritos Pombalinos
Por Gabriel do Santos
1992
(Inicia-se hoje a publicação, neste espaço, dos Inquéritos Pombalinos, cujo enfoque se situa na Covilhã, resultado da pesquisa do nosso amigo, Gabriel dos Santos, concluída em 1992)
NOTA PRÉVIA
Ao estudar a Covilhã do séc. XVIII coloca-se a questão do âmbito geográfico. Sabemos que o concelho do séc. XX não corresponde ao de há duzentos anos atrás, quando o Fundão singrou por caminho separado.
Com posteriores reorganizações administrativas veio a perder várias aldeias. Sameiro passou para o concelho de Manteigas, Caria integrou-se em Belmonte, Unhais-o-Velho uniu-se à Pampilhosa da Serra e, ultimamente, o Pesinho juntou-se à freguesia de Alcaria, no concelho do Fundão.
Outras povoações agregaram-se à Covilhã: o Sarzedo e o Bodelhão, actual Aldeia de S. Francisco.
Como nos interessa mais mostrar o passado da Covilhã moderna escolhemos tratar das freguesias englobadas no actual alfoz.
Numa primeira parte far-se-á a recensão das respostas dos párocos ao inquérito de 1758 com as anotações julgadas convenientes.
Numa segunda parte seguir-se-ão os respectivos inquéritos pombalinos.
INTRODUÇÃO
Findara a Guerra da Restauração. Com a paz nasceu a necessidade de organizar e desenvolver o país. O comércio e a indústria fortalecem-se.
Portugal estivera nos anos de guerra muito ligado à França e Inglaterra que influenciaram o novo pensar português. Aparecem os estrangeirados que não só copiam as modas europeias, mas se deixam imbuir pela nova cultura, o Iluminismo.
É o século das luzes. Luz implica conhecimento, só possível quando uma economia sólida permite dinheiro e tempo disponíveis para a especulação científica, experimentação e pesquisa do desconhecido.
Com o fim do séc. XVII (1699) chegam a Lisboa as primeiras arrobas do ouro brasileiro, iniciando um faustoso período de obras públicas. Nem só em edificações gasta D. João V as riquezas que vêm da América. A cultura recebeu uma boa porção. Portugal, na realidade, era uma incógnita para os centros de decisão. Mapas e relatórios estavam impregnados de erros crassos.
Então um novo tipo de obras literárias se popularizava: os relatos de viagens. Muito tendenciosas, essas evocações. Escritas por viajantes estrangeiros, é natural enfermarem de uma visão distorcida do real. As incomodidades da viagem, o óbice da dificuldade de comunicação com o povo simples do campo, a pouca adaptabilidade do estômago à comida portuguesa, reflectiam-se no escrito final. Esquecendo que no país de origem idênticas povoações tinham parecido viver. Acrescia o característico discurso do português viajado que tende a denegrir tudo que seja nacional.
Era necessário conhecer melhor o país. O P.e. António de Carvalho da Costa (1650 - 1715) publica de 1706 a 1712 a Corografia Portuguesa e Descrição Topográfica do Famoso Reino de Portugal, muito incompleta na sua informação.
Por esta altura o Oratoriano P.e. Luís Cardoso (+ 1769) resolve empreender a publicação de um Dicionário Geográfico, ou Notícia Histórica de Todas as Cidades, Vilas, Lugares e Aldeias.
Para levar a cabo a grandiosa obra pede apoio ao rei e autoridades eclesiásticas.
Envia, depois, a cada pároco três interrogatórios. O primeiro, sobre a povoação, com 29 questões; um outro de 13 perguntas sobre a serra; um terceiro, de 21 itens a respeito do rio. Os párocos correspondem ao pedido. O padre Oratoriano, com as respostas coligidas, inicia os trabalhos de publicação do dicionário, vindo a sair o primeiro volume (letra A) em 1747 e o segundo (letras B e C) em 1752.
Sobreveio o terramoto de 1755 e todo o acervo de documentação ficou inutilizado.
O P.e. Luís Cardoso não desanima. Pedindo o apoio do marquês de Pombal, prontamente prestado, remete idênticos questionários a todas as freguesias.
Recebidas as respostas em Lisboa, como o P.e. Cardoso não se sentisse já com forças para organizar o dicionário, os inquéritos foram encadernados em 43 volumes, que passaram a fazer parte da Biblioteca da Casa das Necessidades, de onde transitaram para o Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
(Continua)
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