2010,
(Setembro, 18)
O Sol acordou mais cedo. Então, eu fui e (já) não vi o orvalho. Do orvalho guardo os sabores do romper das manhãs, claras e serenas, das gotas que escorregavam da maçã, ao lado do pão duro – centeio molhado. A dureza do pão era de oito dias. Havia de haver mais dias, mais pão duro, mais orvalho. E mais manhãs a deixarem-me agarrado, numa doce sonolência, que acabava quando alguém (havia sempre alguém): “Levanta-te, são horas, olha as cabras no curral”. Fui e cheguei lá, à vindima. O Sol ia alto. Alto? Sim. Alto. Ou melhor, assim-assim. Ou não havia pressa, ou não havia, assim, tantas uvas como isso. E por isso, todos juntos começamos a cortar, com jeito, as uvas. Uvas? Ou serão cachos, ou gachos. Não! Ali, certamente, eram uvas. É que eram mesmo as uvas… da Maria José ou do Paulo? Oh! Já não sei. Bem, o Paulo é que vai beber o vinho. O Paulo? E a Maria José? A Maria José também.
(Setembro,19)
Via e ouvia-se o fervilhar do mosto, a cheirar a mosto: no ar.
(Setembro 24)
O vinho entrou em estágio, em cuba (uma modernice). Ainda, sussurra baixinho. Que hiberne bem, por Dionísio!
3 comentários:
Sobralfilho: aqui a tradição ainda está quase intacta! É bonito ver nas imagens, mas também adivinhar nas suas palavras. Então, que o vinho seja perfeito depois de "hibernar na modernice " (como diz) e seja pretexto para mais uma boa conversa, desta feita à antiga...
Mariita,
De certeza que sim. Conversa,vinho e o lume por perto.
...e dizei-me quando for a altura.
Também gosto dum dedal de conversa e do resto.
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