segunda-feira, 15 de setembro de 2008

O MEU BANCO E... OS OUTROS!

(Réplica do meu banco)
Naquele tempo, andava, pela aldeia, descalço e, por vezes, não sei porquê as calças esfarrapavam-se! Mas, era dono de um Banco. Feito de cortiça pelo meu avô paterno (que também fazia cortiços para conforto das suas abelhas que habitavam lá para o Vale dos Tortos, Cabeça Sobral e para o Tarrastal). Era um tropeço diziam… Eu, todo concho, chamava-lhe banco de cortiça. E a partir daí comecei a tropeçar noutros bancos... Na escola primária tinha o banco da escola pegado à carteira. Lá por alturas da 4ª. Classe, mais concretamente em 17-07-1957, sentei-me, na Covilhã, num banco de jardim. Vi as árvores altas, relva, o lago com peixes vermelhos e disse-me: Estes da cidade têm muita sorte! Nós, na aldeia não tínhamos banco de jardim. Quando muito, uma pedra, uma soleira da porta, uma escaleira. E lá fui tropeçando, de perto ou de longe, em outros bancos: O banco que compra e vende dinheiro, o que o faz – o emissor, o que dita as regras – o central; o banco das urgências; o banco de sangue; o banco de esperma (pois claro, para espremer); o banco de dados, cujos dados são vendidos para nos entulharem de lixo as caixas do correio); o banco de areia, o banco dos réus. Nestes tempos modernos, para nos tornarem mais felizes, até nos criaram um banco de tempo – para trocarmos umas horas uns com os outros. E para minorar os erros ou vícios do “moderno” liberalismo económico, temos o banco alimentar contra a fome – esperam-nos à saída dos hipermercados e lá vamos contribuindo consoante as nossas posses; E agora para que o bem-estar seja mais amplo, quase perto da felicidade… esta velha Europa (dos ricos) até quer que os trabalhadores utilizem o (seu) banco de horas… E aqui, paro e penso naquela velha máxima daquele cliente que na taberna da Rua do Quelhas, em Lisboa, do alto da sua sabedoria alfacinha dizia quando lhe perguntava se queria sopa: “A sopa é uma aguarela que o rico inventou para dar ao pobre, não quero sopa”. Eu? Desta também não!... (Pelo menos, naquele tempo em que era dono de um banco, não tinha problemas destes… Problemas, problemas… só os do Caderno 1111).

6 comentários:

Anónimo disse...

Sobralfilho, conheci lá em casa na minha infância uns banquinhos desses,que a gente usava para se sentar á roda da lareira, mas eram mais compactos e um pouco mais baixinhos,
Como meu pai não tinha sobreiras nem colmeias, é provável que esses bancos fossem adquiridos ao teu avô Pereira que os fazia- no lagar fundeiro?- com as sobras do fabrico dos cortiços e a troco de alguns Kgs de arroz ou massa???!!!
A lista dos bancos está quase completa só falta o banco da missa do terço e da doutrina.
saudações do...ex-quase vizinho.

Anónimo disse...

De saudade em saudade, o banquinho de cortiça bem a propósito. Obrigada Sobralfilho, por voltar a dar-nos estes pedaços de ouro e prata.

Anónimo disse...

O meu avô fez-me um igual.
Somos todos filhos da mesma réstea de memória.

sobralfilho disse...

Virgílio,
A réplica do meu Banco peca por excesso!
Quanto ao meu avô é provável a tua teoria. Em lagares o meu avô preferia o Cimeiro: 1/12 avos do lagar eram dele. Por vezes, fazia-os no seu alambique que ficava ali próximo do Forno do Lugar, pagado ao dos Ti-Romões; a parede do prédio (antiga salina) tinha uma grande barriga (lembras-te?), mas só veio a cair quando alguém pensou em fazer uma rua marginal à Ribeira, desde de próximo da tua porta até à Laje. Todas as casas, curraIs e palheiros seriam progressivamente demolidos, situação, essa, que levaria anos… Passado pouco tempo, “os políticos” desistiram do projecto e lá se foi a marginal. Em suma, uma pequena traição que alguém fez ao meu pai que, ao tempo, também era “político” – mas dos fracos. E lá se foi“ também “o meu alambique” …
Um abraço,

Mariita,
São estas saudades que me empurram…

Anónimo,
Gostaria que não o fosses (anónimo).
E todos os avós gostavam de dar um banco de cortiça ou madeira aos seus netos e nós – os netos – que temos memória gostávamos deles!

Anónimo disse...

Sim sobralfilho lembro-me bem da barriga da parede do lambique do teu avô,também lhe poderíamos chamar chiba-corcova , assim como do curral do Pedro João e da casa do Ti Ervilha que vei mesmo abaixo.
Também o meu lambique chegou a ter o mesmo destino marcado mas o 25 de Abril salvou-o e ainda hoje lá está- só as paredes claro-o Alambique- que era dos melhores -estará velhinho e abandonado no quintal do ti Zé Abrantes e herdeiros.
Quanto ao teu pai ser dos fracos...não era não ,era mas é dos puros.
E os 1/12 dos teu avô, continuam indivisos ? Então tu deves ter uma 60ª parte da ruina. 1/60 avos ???
um abraço.

sobralfilho disse...

Virgílio Neves,

O meu quinhão foi de 1/48 avos: 1/12 avos a distribuir por 4.

Mas, antes que as "acções" do Lagar Cimeiro batessem no fundo, retirei-me do negócio e vendi esse meu quinhão a uma das minhas irmãs.
As ruínas dão-me,contudo,
lembranças das pândegas que por lá se faziam. O bacalhau daquele tempo era do bom! Por vezes, era "pescado" na taberna/mercearia do Ti-Galhetas...

Um abraço