terça-feira, 7 de abril de 2009

NO RELÂMPAGO QUE RASGA, SECANTE

NO RELÂMPAGO QUE RASGA, SECANTE

Se pudesse encontrar dos olhos o olhar leve

E imperceptível que hoje se abriu ao longo do rio, na margem,

Imagem

Única e inacessível ao espaço deste corpo breve

Se o teu caminho seguisse pelos passos que no chão gravaste em arte

Com o coração a bater de Brel a música e o compasso

Espaço

Teria, infinito, onde possível, possível fosse poder amar-te.

Não quiseste que assim acontecesse, pelo acaso, por ser destino, por estar determinado

Ou para que eu rodasse, enlouquecesse, perdido, na cor do sol, amarela

Mas porquê hoje, nesta tarde, sem razão, p’lo destino, pelo fado?

E afinal fugiste no relâmpago que rasgou secante

Para que ficasse banhado de ténue sombra de aguarela

Sem olhar leve, sem corpo breve, sem voo que cante.

(José-Alberto Marques*, Hiperlíricas, © Campo das Letras – Editores, S.A., 2004)

*Meu professor de português nos anos (19)60 – na Escola Técnica Campos Melo da Covilhã.

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