Não morrerei sozinho
Não se há-de tresmalhar a canção
Do forasteiro
(Poesia de Daniel Faria - Edições Quasi, 2003)
PARA TI
sem palavras entre nós
é que o tempo correu
desde a última vez que te falei.
tinhas nesse tempo
uma voz de madrugada
inconscientemente fundida nos gestos
e nos teus olhos havia palavras francas
que os teus lábios acariciavam
com sorrisos de pessoa adulta
(parecias quase uma mulher)
lembras-te?
hoje tens um poema começado nos dedos
com bases firmes nas raízes dos cabelos
os teus braços estendidos
têm uma linguagem correcta dos versos
as mãos a noção exacta do tema
e começo a notar-te profundamente a obra no rosto
(há-de ser uma obra diferente como tu disseste)
quando tu fores toda um poema
eu hei-de procurar a tua leitura
porque sempre gostei de ler bons poemas.
(Carlos Ortil – Hey-jUve, 2/11/1969)
A criança fecha os olhos no muro
Conta o tempo que os amigos demoram
A transformar-se
Fecha os olhos no interior dos números
Olha para dentro e em redor e encontra-se
A si mesma
A criança pergunta se há-de ir ter consigo
Ela quer encontrar os amigos, ela quer
Que lhe respondam. Ela calcula a voz alta
A altura do muro, a progressão do silêncio
(Daniel Faria, Poesia – Edições quasi, Novembro de 2003)
EXTASE
Je me sens envoûté, conquis, par cette flamme
Qui brûle et qui enflamme um coeur transfiguré
Amoureux, perturbé jusqu’au fond de mon âme.
Et ma voix te proclame, ô divine beauté!
Pour toi, m’immolerais! Ce qui serait un drame
Détruisant la gamme à cet hymne enchanté.
Je veux vivre sans heurt sans peine ou amertume
Léger comme une plume, apprivoiser ton coeur,
Déguster ta freîcheur, qui rien, rien ne consume.
Suprprimer la coutume, écrire en une phrase
Le tout avec emphase et en toute splendeur,
Sombrer dans la douceur d’une sublime extase.
(Laureano Soares in De sable et d’eau claire,
Collectif de poésie du Cercle des Poètes de la Montérégie
[Impression: Le Caïus du Livre, Montréal, Canada])