quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A CANADA DA FETEIRA

Lado da avesseira Lado da soalheira/próximo do barroco Meio da testada Idem Idem Quase no cimo Cimo da testada e canada

A Canada da Feteira

Neste último fim-de-semana, muito se falou de transumância. Ontem, uma oportunidade para melhorar a alimentação do gado ovino que consistia na sua deslocação, das montanhas para as longínquas planícies e vice-versa, em períodos específicos do ano (Verão e Inverno). Hoje, ao reinventar-se a transumância já perdida nas brumas dos tempos, surgiram oportunidades de negócio que não são de desprezar. E, por isso, em Alpedrinha, houve festa da rija!

Nós, no Sobral, tanto quanto sei e me lembre, não era costume a transumância, dado que o gado caprino predominante, nestes sítios, resistiam melhor ao frio e ao calor e também porque era recolhido nos currais, em cama quente feita com mato – o que dum modo natural e eficaz muito contribuía para a limpeza natural dos pinhais e da serras. Mas, mesmo assim, tínhamos também a “nossa” transumância que consistia na mudança do gado caprino de uma fazenda para outra, ou porque tivesse acabado a erva, a ferrã, o zaburro, as folhas e canas de milho, ou porque a loja/curral já estava cheio de estrume que precisava de ficar a curtir durante uns tempos. E, assim, surgiram as canadas – trechos ou faixas de terrenos incultos extremados por paredes ou sinais nas fragas, por onde se fazia essa passagem ou mudança, ou simplesmente para levar o gado a saciar a sede na Ribeira ou no barroco (ribeiro). Por isso mesmo, mostro ou relembro a canada de maior extensão que conheço no Sobral: A Canada da Feteira que fica(va) na extrema dos terrenos do Sr. Prof. José Pereira, na Feteira, que servia para mudar o gado do Barroco de Carvalho para os lados da Cabeça-Sobral e vice-versa, claro. O mato, as giestas, os pinheiros cresceram e quase escondem as paredes da canada que continuam firmemente a resistir ao silêncio: Ali, os chocalhos calaram-se…

3 comentários:

Mariita disse...

Sobralfilho: como sempre, descreve de forma maravilhosa toda a vivência de um tempo em vias de desaparecer por completo. É muito bom que o recorde, registe e nos avive a memória. Bem-haja!

F.Paulo disse...

Além dos motivos invocados no texto,havia outros que davam origem a canadas mais pequenas e que serviam normalmente terrenos da mesma familia que após partilhas meio enviezadas garantiam o acesso dos animais a testadas de mato ou parcelas de terreno que não estavam interligadas.Havia e ainda há parcelas que foram divididas ao atravessar em vez de serem na vertical.o que inibia o acesso por terrenos próprios.

sobralfilho disse...

Mariita,
Grato pela palavra. Era bom que esta vivência não desaparecesse. E, com este futuro nebuloso que nos oferecem, daria jeito que não fosse assim.
F.Paulo,
Tens razão.
Somente quis evidenciar aquela canada por ser a de maior extensão que eu conheço. Canadas de menor dimensão, com as características que tu indicas, haverá, no limite do Sobral, muitas dezenas ou talvez centenas. Eu próprio ainda “tenho” em Carvalho duas, ambas ao atravessar. Na Tejosa, no Tarrastal e na Fojasteira, terrenos onde eu pastoreei também havia (e há). Interessante que muitas delas não tinham quaisquer marcas. Bastava o costume e a Palavra.