quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Covilhã em 1785 - Inquéritos Pombalinos

(continuação)
C – HIDROGRAFIA O terceiro interrogatório referia os cursos de água. Nem todos os párocos responderam a este questionário: Aldeia de Carvalho, Casegas, Ferro, Peraboa e Tortosendo. Com as respostas coligidas faremos um esboço da rede hidrográfica da região, naturalmente com as lacunas que a memória ou o desconhecimento dos inquiridos deixam prever. Sendo a Estrela abundante em águas, nela começam muitas ribeiras que se desenvolvem em direcção ao Zêzere, tronco principal da bacia hidrográfica da Covilhã. O seu nome derivaria de Júlio César, "fluvius Cesaris," como discorreu o prior do Teixoso e lembra a resposta da vila. Sempre assim seria chamado mas o prior de Orjais desencantou um nome mais antigo -"Tigre". O Zêzere nasce no Cântaro Magro e cedo engrossa o volume de águas com a fonte Paulo Martins. De curso arrebatado, percorre duas léguas até Manteigas, em direcção ao nascente, assim continuando até Aldeia do Mato. Prossegue virado a leste mas seu leito é agora suave. Remansoso até Silvares, em Belmonte vira para sudoeste, indo misturar suas águas às do Tejo em Punhete (actual Constância). Quanto à sua extensão são variados os cálculos, desde 40 léguas para o pároco do Ourondo até 25 para o de Orjais. O seu leito é cortado por uma cachoeira abaixo da Barroca e nesta povoação ergueu-se um grande açude. Outro, de 800 passos se levantou no Barco. Junto a esta aldeia existe uma ilha, onde abundam os salgueiros e latadas. Tem como afluentes na margem esquerda as ribeiras de Valhelhas, Famalicão, Gaia e Meimoa. Confluem na margem direita variados cursos de água. A ribeira de Beijames nasce no Vale Longo e atravessa Verdelhos. Não sendo caudalosa, corre todo o ano. Dirige-se do poente ao nascente na distância de duas léguas indo lançar as águas no Zêzere. No Teixoso temos a ribeira de Gibaltar, formada pela junção de outras duas, as de Seixa e de Tigelos, com o comprimento de um quarto de légua cada uma. Ao aproximar-se do Teixoso muda o nome para rio de Álvaro Pires até se meter no Corges (também chamado Carrapatelo). Medirá do nascente ao Corges uma légua pequena. Ao Corges se junta igualmente a ribeira da Capinha. Ladeando a Covilhã estão as ribeiras da Carpinteira e Degoldra, que correm para o Corges, e a de Água Alta, que desce para o Zêzere após a confluência do Corges. Os inquiridos, sem citarem os nomes, fazem-lhes pequena referência. A um" tiro de mosquete" do Ourondo finda a ribeira do Caia, denominação antiga mas fora de uso, pois esta linha de água muda de nome consoante as povoações por onde passa, adoptando os respectivos topónimos. Nasce na Bouça. Após uma légua recebe um ribeiro nascido nos Zebrais. Acrescenta-se com a ribeira de Unhais e, passado o Paúl, aceita a da Erada. Já no Ourondo aumenta com a ribeira de Casegas, cujo pároco omitiu a descrição, como esqueceu a do Porsim, que tem seu início nas vertentes do Açor viradas para o Sobral e S. Jorge da Beira (então Cebola). As águas do Zêzere eram livremente usadas nas regas, sendo livres as pescarias, excepto nos caneiros ou açudes particulares (por exemplo, o do P.e. António Barata no Barco). D - ACTIVIDADES ECONÓMICAS 1 -AGRICULTURA A agricultura era o principal meio de vida da população. A Cova da Beira, como refere o cura da Boidobra, era então, como hoje, um belo pomar. Maior pobreza haveria nas encostas da serra. Sendo o mel um produto de fácil exploração só é considerado no Paúl e Erada. A cevada aparece unicamente na Peraboa. Os legumes só mereceram citação no Teixoso. A fruta ficou em lugar bem modesto. Cremos que os párocos colocaram por ordem de grandeza as colheitas dos seus paroquianos. Assim se explica que o prior de Sarzedo refira uma cultura e os de Orjais, Verdelhos e Aldeia do Mato mencionem duas. Optemos por estudar os três produtos mais importantes de cada freguesia. No quadro 2 aparecem as culturas segundo a ordem como estão nas respostas ao inquérito. O quadro 3 resume a produção por ordem de grandeza e frequência dos produtos. O centeio ocupa o 1º lugar, sendo a principal cultura em nove freguesias e ocupando o 2º em cinco. Segue-se o milho que, cultivado em 14 freguesias, atinge o 1º, 2º e 3º lugares em quatro aldeias, respectivamente. A castanha, que fora a primitiva base da alimentação, consegue ser a cultura mais importante em duas freguesias, ganhando um segundo e dois terceiros. O vinho tem uma posição modesta sendo cultura principal no Teixoso, secundária no Ferro e terciária em Casegas. Outros produtos em segundo plano são o azeite, trigo, linho e fruta. Os legumes, cevada e mel pouco influem na economia rural. O quadro 3, baseado em O Distrito de Castelo Branco Perspectivas do Desenvolvimento Regional[1], indica algumas mudanças, não só nos produtos como nas freguesias, o que é natural já que dois séculos separam os respectivos inquéritos. [1] - De Lopes Marcelo, José Passos e Fernando Raposo - edição de 1981, Castelo Branco.
(Por Gabriel dos Santos)
(Continua)

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