quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Covilhã em 1785 - Inquéritos Pombalinos (continuação)




(Quadro 5 - produções havidas em 1980[1])

2-PASTORÍCIA

Devido às óptimas pastagens a pastorícia teve grande desenvolvimento no concelho.
Os pastos da Estrela só eram utilizáveis no Verão obrigando os pastores à prática da transumância, recolhendo os seus rebanhos nos meses menos propícios às campinas da Idanha, Alentejo e mesmo Estremadura espanhola[2].
Nem todos os rebanhos vinham de fora. Citam a existência de gado miúdo de cabelo (cabras) ou lã os párocos de Aldeia do Souto, Barco, Unhais e Orjais. Nenhum fala de gado graúdo, bovino ou cavalar.

3-CAÇA

Por todo o concelho se praticava a caça às perdizes e coelhos. Registou-se a presença de javalis em Verdelhos, Sarzedo e Orjais.
Apareciam corças no Sarzedo e uns raros ursos em Orjais.


4-PESCA

As águas frias da serra prestavam-se à cria de saborosíssimas trutas.
Também o Zêzere e seus afluentes eram viveiros de variados peixes: enguias ou eirós, bordalos, bogas, barbos, picões, sáveis e lampreias.
Para a pesca utilizavam-se alguns caneiros ou açudes em cuja estrutura os peixes tinham refúgio apropriado.
Famosos eram os barbos de meia arroba ou vinte arráteis[3], no dizer dos párocos da Covilhã, que se criavam no pego do Zêzere a jusante da Barroca.

5-INDÚSTRIA

As respostas a este item são pouco férteis em informações. Não fora a ligeira alusão dos párocos da Covilhã aos pisões, casa de tinte, prensa e fábricas de pano ou baetas, creríamos que a lã das ovelhas da Estrela não era aqui manufacturada. É de admirar este quase silêncio, pois não estariam esquecidas as medidas do conde da Ericeira que fomentaram bastante os lanifícios.
O Teixoso possuía seis pisões e no Paúl havia alguns.
Para a moagem dos cereais contavam-se dois moinhos na Erada, onze no Ourondo, cinco na Aldeia do Mato, um no Sarzedo e sete no Teixoso. O Barco tinha uma azenha que no tempo próprio servia de lagar. Havia moinhos no Paúl, Orjais, Peso e Boidobra.
A Erada tinha três lagares, o Barco um e o Ourondo dois. Havia outros no Paúl e Peso.
No que respeita à indústria extractiva informam os párocos da Covilhã da existência de estanho e chumbo em certos braços da serra e na ribeira de Gaia. Dizem, também, que num quintal da Covilhã apareceu material de azougue[4] e não esquecem o ouro explorado junto ao Peso.
Na serra do Açor, junto à estrada que vai para a Cerdeira, encontrou-se salitre[5]. Na ribeira do Paúl, numa concavidade aberta na rocha, a Cova da Moura, descobriu-se um material bom para fabricar «pedra alume e caparrosa»[6].
Nesta ribeira, diz o prior do Paúl, quase todos os anos se vêem ourives ou oureiros procurando ouro.
Voltemos ao ouro do Peso, onde, na Barroca do Ouro, muitos homens o procuram usando umas bandejas de madeira. Num ribeiro perto desta Barroca fora descoberto, havia quarenta anos, um forno subterrâneo cheio de terra misturada com ouro que se desaproveitou por não haver pessoa capaz de separar as impurezas do metal. Todavia o pároco do Peso ignorava que em algum tempo se retirasse ouro do rio.

6 - FEIRAS

Na Covilhã realizavam-se várias feiras. Nenhuma delas era franca. Havia uma mensal e três anuais. A mensal efectuava-se nos terceiros domingos de cada mês. As anuais tinham lugar no domingo de Lázaro, dia de S. Tiago e em dia de S. Miguel.
A feira de S. Miguel fazia-se no caminho para o Tortosendo, junto da capela do arcanjo e, por isso, dita da Estrada.
A feira do Teixoso era franca e tinha sua data no dia de S. Pedro. A do Tortosendo, marcada para 29 de Outubro, era franca para os naturais do concelho.

[1] - Números retirados de «A Região Centro, Caracterização e Perspectivas de Desenvolvimento », edição de 1981, Comissão de Coordenação da Região Centro.
[2] - Um mosteiro da região estremenha, Nossa Senhora de Guadalupe, chegou a pastorear na Estrela rebanhos com um total de 15 000 cabeças.
[3] - A arroba equivalia a 11 Kg e o arrátel a 0,340 g
[4] - Mercúrio
[5] - Nitrato de potássio.
[6] - Caparrosa - Nome de vários sulfatos de ferro, cobre e zinco, que se diz também vitríolo verde.
Por Gabriel dos Santos

2 comentários:

Anónimo disse...

Bem meritório este trablho de divulgação.
Obrigada!

sobralfilho disse...

Mariita, E vai demorar um pouco. O documento é grande e tenho alguma dificuldade em postar os gráficos. Embora não seja esse o seu lugar no documento, tenho de os postar sempre como imagens e no início do “post”.