domingo, 23 de dezembro de 2007

NATAL!...


Naquele tempo, o meu Natal era uma maçã.
Das grandes: Malápia e amarela. Esta maçã e as outras vindas da macieira do Fojo que estava perto do castanheiro e da presa, de donde bebiam, conservavam-se sobre uma camada de palha de centeio e o seu cheiro enchia aquela canto da casa com paredes forradas de jornais.
No dia de Natal, escolhia a maior, a mais bonita e metia-a no bolso direito as calças. Saia de casa, ao toque do sino, subia a quelha, as escadas do Ti-Zé Rito do Adro e encontrava, logo ali, a fogueira de Natal, onde ardiam cepos de sobreira. Ao toque da Missa, entrava na Igreja e quedava-me perto do presépio feito com musgo das Vergadas e dos Torgais. Na hora de beijar o Menino Jesus afagava ternamente a maçã e colocava-a na sua cesta, onde já havia outras maçãs e também laranjas!
Naquele temp(l)o, o Menino Jesus gostava muito de maçãs e de laranjas. E eu tinha a certeza que Ele sabia que a minha maçã era a mais doce. Ao sair da Igreja já só pensava nas filhós e no arroz doce…

9 comentários:

Anónimo disse...

Bela mensagem ó vizinho... belos tempos que já não voltam...eu não levava maçãs porque as nossas não chegavam ao Natal! Eu, e os meus irmãos não as deixávamos deitar cheiro, penduradas em cachos no forro da sala. E mesmo aquelas que ficavam enterradas nas arca do grão de centeio para amadurecer, nós descobriamos e papávamos. quem era o culpado? Ás vezes pagavam 7 ou 8 por causa de um.
QUANTO AO MENINO JÉSUS, todos os anos o pai - Ti galhetas - nos dava 5 tostões para lhe deitar na caixinha que tinha aos pés lá no presépio.
Feliz Natal .

Serranita disse...

Fiquei deliciada! Era tudo bem mais simples e vivido "noutros tempos". E tb achei por aqui a minha música de natal (ou uma das) preferida: Adeste fidelis. Festas Felizes!

sobralfilho disse...

Virgílio Neves,
Pois, na minha casa as maçãs dividiam-se por 6. Na tua casa dividiam-se por 12. O bom, é que havia sempre Natal...

sobralfilho disse...

Sim, Serranita
Naquele tempo e naquele lugar, o Natal era de uma simplicidade ternurenta e continuada...

Anónimo disse...

Sobralfilho, durante 11 anos, 11 meses e 11 dias, fomos 13 !!! Incluindo pai e mãe

Anónimo disse...

Não me lembro de como era a missa do galo, nem o que se levava, mas durante muitos anos, acreditei sem qualquer sombra de dúvida, que o Menino Jesus me deixava junto da chapa da cozinha uma maçã, por vezes uma laranja e surpresa das surpresas...uma vez, uma banana e um pacote de bolacha maria!
Só podia mesmo ser o Menino Jesus!

sobralfilho disse...

Pois, Virgílio Neves,
Assim sendo, não havia maçãs que chegassem…
E no Casal da Pires tinhas alguma macieira?
Das vezes que lá passei a fazer a transumância não me lembro de lá ver nenhuma.

Bom Ano Novo.

sobralfilho disse...

Mariita,
Nesse tempo o Menino Jesus era mesmo um Menino às direitas.
Agora inventou-se o Pai Natal que para não se sujar já não desce pelas chaminés. Das terras frias da Finlândia/Noruega passou pelos Alpes e aprendeu alpinismo…

Continuação de Bom Ano Novo.

Anónimo disse...

Óh quanto puxas pela minha rica memória sobralfilho!!! E o quanto é bom recordar...
Fizestes me lembrar da macieira das (das aigras) que o meu Ti Pereira lá tinha. Distava apenas uns escassos 30 passos da vereda onde tu passavas na dita transumância (bianual?)das Rasas p/ o Tarrastal. Essas maçãs eram tão aigras (pouco doces)que o n/ tio nem as apanhava ...mas eu e os primos (Marcelinos) lá as "tratávamos" da colheita...
Agora no meu "pomar" não faltavam figos e pêssegos, mas o que fazia as nossas delícias era a cerejeira que fôra enxertada de duas qualidades, vermelhas e brancas e que ficavam bem amarelinhas quando maduras o que só acontecia muito depois das vermelhas acabarem.
E acrescento ainda a videira enorme na parede do chão de cima que dava uvas FERRAIS de 2 kilos ali por alturas do Natal. que maravilha...
digam lá se não fiz bem recordar! Ficaram com água na boca? Também eu.
Abraços, bom 2008.