sábado, 12 de abril de 2008

O PÃO


O PÃO

Disse-te, Platero, que a alma de Moguer é o vinho, não foi? Não; a alma de Moguer é o pão. Moguer é como um pão de trigo, branca por dentro, como o miolo, e dourada à volta – oh, sol moreno! – como a branda côdea.
Ao meio-dia, quando o sol queima mais, a aldeia inteira começa a fumegar e a cheirar a pinheiro e a pão quente. Abre-se a boca a toda a aldeia. É como uma grande boca que come um grande pão. O pão vai bem com tudo: com o azeite, no gaspacho, com o queijo, com as uvas, para dar sabor a um beijo, com o vinho, com o caldo, com o presunto, com ele mesmo, pão com pão. Também sozinho, como a esperança, ou com uma ilusão…
Os padeiros chegam a trote nos seus cavalos, param a todas as portas meio abertas, batem as palmas e gritam “Padeeeeeirooooo!”… Ouve-se o ruído meigo dos pães que, ao cair nos cestos, que braços nus levantam, chocam com os bolos, das fogaças que chocam com as roscas.
E logo os meninos pobres chamam às campainhas das cancelas ou às aldrabas dos portões, chorando longamente lá para dentro: Um bocadinho de pão!...

(Juan Ramón Jiménez, Platero e Eu, Edições Cotovia, Lda., 2007)


Sem comentários: