sexta-feira, 11 de abril de 2008

SIBILA – AO RECÉM NASCIDO




Marina Tsvetáeva
SIBILA – AO RECÉM NASCIDO

Aperta-te ao meu peito
Meu menino:
Nascer é uma queda nos dias.

Das rochas de além-nuvens, de nenhures,
Que baixo caíste,
Meu menino!
Eras espírito, pó te tornaste.

Chora, meu menino, por eles, por nós:
Nascer é uma queda nas horas!

Chora, meu menino, no futuro e além:
Nascer é uma queda no sangue,

No pó,
Nas horas…

Onde os clarões dos milagres?
Chora, menino: o nascer para o peso!

Onde as jazidas da generosidade?
Chora, meu menino: o nascer para a conta,

Para o sangue,
Para o suor…

Mas hás-de erguer-te! O que no mundo se chama
Morte – é queda no firmamento.

Mas verás! O que no mundo – se diz pálpebras
Cerradas – é nascer para a luz.

Do agora –
Para o sempre.

A morte, pequeno, não é dormir, é erguer-se,
Não é dormir, é regressar.

A nado, pequeno! Já um degrau
Foi galgado…
- Ascensão para o dia.

(Marina Tsvetáeva, Depois da Rússia, 1922-1925, Relógio d’Água Editores, Novembro 2001),

Sem comentários: