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sábado, 13 de outubro de 2012

E MAIS UM LIVRO:


Do sempre amigo, conterrâneo e poeta, Laureano Soares. Terá lugar, no próximo dia 21 de Outubro (Domingo) pelas 15 horas, no Centre Communautaire de l'Esprit Saint d'Anjou, 8672, rue Forbin Janson, Montréal, o lançamento do seu último livro "Regards avec le coeur".

Parabéns, Laureano, um abraço  e que o vinho "escorra pelas gargantas"…

terça-feira, 1 de junho de 2010

POETAS DO SOBRAL

CANTO X I Sobral de São Miguel, berço dourado, Nenhuma igual a ti, ó meu amor, Terra de meus pais, canteiro amado, Repleto de mil bênçãos do Senhor; De muitos naturais foste cantado, Em cítaras e harpas de louvor. Rezas, humilde, prostrado, ao fundo, Como que a lembrar o final do mundo. II Teus filhos comem, na dureza, o pão, Amassado no esforço e no suor: No Fundo do Lugar, no Caratão, Por todos os lugares, ao derredor, Soará sempre em nosso coração E no fundo da alma com mui fervor: Sobral acolhedor, hospitaleiro, Não há igual a ti no mundo inteiro. III Cercado de oliveiras e pinhais, Espelha-se na ribeira ternamente; Nas encostas abundam os currais Onde o gado adormece docemente; Uivam, à roda, lobos e chacais. Cães de guarda repelem ferozmente. Pode dormir tranquilo o seu pastor Da noite o sono, da manhã o alvor. IV Chiam rodados já pelos caminhos. Bois poderosos puxam pelos carros. Cantando esvoaçam os passarinhos. Deixando as plumas ficar pelos barros, Vão sem demora em busca dos seus ninhos. Pastores, além, vão limpando os tarros Ðas ferradas do leite que extraíram As fêmeas que, entretanto, já pariram. V Manta aos ombros, pífaro na sacola, Solta o pastor, pela manhã, o gado Os pais tiraram-lhe dias de escola; Vai cantarolando, alegre, no prado, Parece um mendigo pedindo esmola, Mas vive tranquilo e bem sossegado e Que breve há-de vir a libertação Quando, um dia, for chamado à inspecção. VI Sobreiras, castanheiros ancestrais, Espalham-se pelo povo em cortesia. Lembram monges em matinas claustrais Orando e laborando obra pia Do Barreiro, às Ladeiras, aos Torgais, Vão cumprindo uma longa romaria Até que um dia chegue finalmente o seu abate feito tristemente. VII Teus autarcas engordam no poder, Mas não se lhes dá de cuidar de ti. Os da Covilhã preferem esquecer «Sobral sem rei nem roque», onde é que eu li? Isto quem é que o pode ora entender!? Os da terra por aqui e por ali... Ninguém tem tempo para dedicar A tanta obra que há por realizar. VIII Ribeira de águas puras, de cristal, Como estás, de tanta poluição? Como te puseram, meu rico Sobral! Almas sem pensarem, sem coração Sem respeito nem consideração Sujam indignamente o teu caudal Tudo foi feito em nome do progresso. Tornou-se num gigantesco insucesso! IX Outrora as ruas cantavam alegria. Chafariz da Ponte era a concentração De ranchos e ranchos para a romaria: Alguns pernoitavam com mui razão E, mal a noite dava azo ao dia, Metiam-se ao caminho, pois então, Com destino ao Senhor do Colcorinho Cantado e dançando pelo caminho. X Imponente, ao centro, fica a Igreja Com sua torre desafiando o céu, Qual grito íntimo que alguém deseja, P’ra libertar-se da noite de bréu. Que todos saibam, todo o mundo veja, Dalí até ao Povo do Miléu Quanto alguém pode movido pela fé Confiado a Maria e a São José. XI Meu São Miguel, és padroeiro forte, Deste povo que canta ao desafio; Suportas, lá, na torre, o vento norte Ano após ano, ao sol e ao frio; Ninguém te inveja a dura e cruel sorte. Quando rodas e rodas, muito, a fio, Só te falta cantar: cócorócó Não sendo já tormentoso estar só. XII Defendes, lá, da tua fortaleza, O Povo rude e culto desta terra; Quando paira nos ares a incerteza Dos seus filhos irem lutar p’rà guerra, Estendes as asas com mais nobreza, Tanta quanta, por bem, teu peito encerra. Se mais não fazes é porque não podes Que água do capote tu não sacodes. XIII Quando chega o dia da tua festa, A tua imagem sai engalanada. Anjo de Portugal, cheirinho a giesta, Aldeia toda fica perfumada, Não se vê romaria assim como esta. Anjinhos saem de asa prateada, O Povo canta ao Senhor São Miguel, Defensor bendito, forte e fiel. XIV Pelas eiras estendais de milho ao sol, Juncam o chão de grãozinhos dourados; Nos salgueiros já canta o rouxinol, Melodias e ritmos bem timbrados. No horizonte, brilhante o arrebol, Deixa poisar os raios nos telhados. As crianças regressam já da escola Com os livros arrumados na sacola. XV Fumegam chaminés de telha-vã. Chega do campo o lavrador cansado. Na cozinha faz o caldo a mamä. o gato espreita, mesmo ali, ao lado. A filha põe a mesa com afã. O filho faz as contas embalado Ao som das panelas já a ferver A ceia aí está pronta p’ra comer. XVI A família dorme em colchão de palha Depois de rezar muito pelas alminhas; o cansaço provoca alguma falha. As almas nos perdoem, coitadinhas!, Deus nos acuda, nos salve e nós valha!, Rezam os pais em doce ladainha; Os filhos, esses, roncam para o lado Um sono mui tranquilo e bem pesado. XVII No cubículo amanhece cedo. o vento, sibila, frio, pelas fisgas. A mãe levantou-se muito a medo. A seguir foi a vez das raparigas. Eles ainda dormem, qual penedo. Era já tarde ao deixarem as espigas Pelo sobrado da casa espalhadas, Secando, para serem debulhadas. XVIII Novo dia retoma seu fadário. As mulheres em casa na liderança, Todos cumprindo o programa diário, Enchem o lar de abundante abastança Para prosseguirem o itinerário De partilhar a casa sem tardança. Louvado seja Deus, nosso destino! Mais que o pão, importa o amor divino. XIX Do Cabeço da Nave à Fozgiesteira, Do Carvalho, do Pereiro ao Porcim, Vai gastando este povo a vida inteira, Sorvendo o rosmaninho, o alecrim; Nas encostas da serra é canseira De amanhar a terra dura, por fim, Comer centeio com o suor do rosto, Na alma a cantar aleluias por gosto. XX Povo imortal dos teus e meus avós, Eu te saúdo, canto e venero. Vives distante, abandonado, a sós; Mas ver-te alevantado ainda espero Após tremenda luta, guerra atroz, Num grito enorme, final desespero: «Não deixem morrer meu Sobral, querido, Assim «por eles», meu grito seja ouvido! XXI Na Portela veneras Bárbara Santa, Excelsa padroeira dos mineiros; O seu martírio dá-nos alma tanta Que a trabalhar nós somos pioneiros. Quando a vida vai mal, a gente canta: (E nisto de cantar somos primeiros). Talvez para abafar a escuridão Da Madurrada ao Cabeço Pião. XXII Na Foz da Portela lava-se a gente Que não descer ao Poço das Navalhas; Todo a ano a ribeira tem corrente Mesmo se a chuva tem, por vezes, falhas; Um rego corre sempre docemente, E leva pela frente areias, palhas, Até se confundir no Forcacão Onde as ondas já fazem turbilhão... XXIII Dali, ao Zêzere, quantos saltos dá! Rola, de cascalheira em cascalheira, Pula, de cascata em cascata, já; Juntando-se às águas da Panasqueira E a outras mais qu’inda correm por lá, De boa companhia e cavaqueira, Fazem o grande Tejo transbordar E vão morrer, raivosas, no alto mar! (In Cantando os Hermínios, de Pe. António Pinto da Silva, edição do ano 2000 da Câmara Municipal de Penamacor) Nota: Soube da existência deste livro passados alguns anos depois da sua publicação. Por motivos vários e principalmente por não ter sabido procurar nos sítios certos só agora, passados 10 anos da sua publicação, me vem às mãos. Livro composto por 10 Cantos de exaltação à Serra da Estrela, sendo o último dedicado ao Sobral.

domingo, 21 de março de 2010

(Dia mundial da poesia) ENTÃO, QUE AVANCEM: OS POETAS

A PORTA Alguma coisa fora de mim está escondida em mim como um coração exterior Às vezes canta mesmo a meu lado com a minha voz como se tivesse eu cantado Talvez estas lágrimas não me pertençam nem este momento nem este sentimento de este sentimento Que rosto real me olha e se vê? Que porta física tenho que passar? (Manuel António Pina, “poesia reunida”, ed. Assírio & Alvim) _________________ REZA DA MANHÃ DE MAIO Senhor, dai-me a inocência dos animais Para que eu possa beber nesta manhã A harmonia e a força das coisas naturais. Apagai a máscara vazia e vã De humanidade, Apagai a vaidade, Para que eu me perca e me dissolva Na perfeição da manhã E para que o vento me devolva A parte de mim que vive À beira dum jardim que só eu tive. (Sophia de Mello Breyner Andresen, “Dia do Mar” Ed. Caminho)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

POETAS DO SOBRAL

PARA TI

sem palavras entre nós

é que o tempo correu

desde a última vez que te falei.

tinhas nesse tempo

uma voz de madrugada

inconscientemente fundida nos gestos

e nos teus olhos havia palavras francas

que os teus lábios acariciavam

com sorrisos de pessoa adulta

(parecias quase uma mulher)

lembras-te?

hoje tens um poema começado nos dedos

com bases firmes nas raízes dos cabelos

os teus braços estendidos

têm uma linguagem correcta dos versos

as mãos a noção exacta do tema

e começo a notar-te profundamente a obra no rosto

(há-de ser uma obra diferente como tu disseste)

quando tu fores toda um poema

eu hei-de procurar a tua leitura

porque sempre gostei de ler bons poemas.

(Carlos Ortil – Hey-jUve, 2/11/1969)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Poetas do Sobral

EXTASE

Par ton regard qui pâme ô belle et douce fée!

Je me sens envoûté, conquis, par cette flamme

Qui brûle et qui enflamme um coeur transfiguré

Amoureux, perturbé jusqu’au fond de mon âme.

Approche-toi plus près mes lèvres te réclament,

Et ma voix te proclame, ô divine beauté!

Pour toi, m’immolerais! Ce qui serait un drame

Détruisant la gamme à cet hymne enchanté.

Je veux vivre sans heurt sans peine ou amertume

Léger comme une plume, apprivoiser ton coeur,

Déguster ta freîcheur, qui rien, rien ne consume.

Suprprimer la coutume, écrire en une phrase

Le tout avec emphase et en toute splendeur,

Sombrer dans la douceur d’une sublime extase.

(Laureano Soares in De sable et d’eau claire,

Collectif de poésie du Cercle des Poètes de la Montérégie

[Impression: Le Caïus du Livre, Montréal, Canada])

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

À NATUREZA

(... em turbulência) Hino à natureza Vem ver, amor, a água do nascente descendo pela encosta a saltitar límpida, clara, fresca, a marulhar melodias cantadas alegremente. Vem ver o astro-rei lá no poente; vem e escuta o hino, o chilrear das aves puras, seu lindo cantar que glorifica o todo Omnipotente! Vem ver este lugar com os teus olhos, o alto da montanha perto dos céus; vem ver a sumptuosa natureza! Vem, depois vais dizer como eu, enfim, sabes, meu amigo, porque falo assim: a natureza é do mundo a maior riqueza! (Laureano Soares in Raízes de Ardósia)

quinta-feira, 3 de abril de 2008

POETAS DO SOBRAL

OUTRORA O SILÊNCIO DA CIDADE diariamente sentíamos a força das palavras caírem sobre nós tinham um sabor repetido nas estátuas e era inútil gritar as leis que nos regiam ou mesmo sofrer o sol que nos queimava silenciosamente as mãos construíam a única linguagem possível desse tempo contavam histórias antigas com sabor a saudade ─ histórias e nada mais muitas vezes quisemos contar das pessoas sinceramente a terra que pisavam. ─ pois porque não? mas era doloroso sentir uma aragem fria entranhar-se nos ossos ou a profundidade do silêncio alojado nas coisas compreendemos então um clima de morte na cidade e antes que secassem as árvores sentimos a urgência de partir Carlos Ortil (Publicado no JUVENIL, suplemento literário do Diário de Lisboa Nº. 648, em 18/11/69)

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Poetas do Sobral





DO TEMPO QUE VIVEMOS JUNTOS


DAS NOITES É QUE EU GUARDEI RECORDAÇÕES
dos dias não
porque não havia um passo a mais
na monotonia das horas
nem um grito a menos no bulício das praças.

eram dias iguais
hora por hora homem por homem
e os nossos gestos geralmente
nunca tinham nada de novo para os outros

até o horário do emprego
continuava com os olhos sobre nós
às nove horas e às duas horas
(à saída não era preciso)

e se era
ouvíamos logo palavras gastas
caírem sobre nós, quando nos aproximávamos
da porta.

nas noites não era assim
não havia horários a cumprir
nem havia as mesmas caras paradas
na mesma rua
nem os sinaleiros mandavam em nós
nem os carros.
além disso
havia homens embriagados a atirar palavras
inconscientes às pedras da rua
enquanto nós mediamos a profundidade
dos becos e das horas.

da lua não te falo
por já saberes como ela existe
no meu mundo.

Carlos Ortil

(pseudónimo de António Lopes Paiva)
(Publicado no HEY-JUVE, nº. 8 – Verão de 1969)